Porque a transição é uma jornada solitária?

Se você aproveitou a pandemia — ou foi provocada(o) por ela — para fazer uma transição nos últimos meses e está se sentindo sozinha(o), abandonada(o) e incompreendida(o); respira e vem comigo!

A evolução das espécies passou por muitas fases, o que significa que, mudar faz parte do nosso DNA. Somos a única espécie capaz de reproduzir algo que ainda não aconteceu, somos capazes de desejar, sonhar, refletir; e com isso, querer mudar. Mas não vim falar da evolução das espécies e sim de outra que tenho experienciado nos últimos anos: a evolução da consciência! Mudar é inerente ao ser humano, mas ter a consciência da mudança, seus aspectos e etapas nos faz entender o que sentimos e buscar agir da melhor forma possível.

Existem momentos na vida que nos sentimos desafiados a fazer transições, umas mais leves e de acordo com o previsto, outras oriundas de fatos incontroláveis — demissão, falência, se separar ou perder alguém. Mas existem aqueles momentos que as perguntas difíceis emergem do nada, e como um sinal de alerta te jogam na caixinha dos porquês! É uma inquietação de dentro para fora, como um sapato que apertou e não te serve mais. Mudar se torna urgente!

No princípio era o medo… e ele toma conta mesmo, porque não sabemos o que, nem por onde começar. E vamos buscando fontes de conhecimento que assegurem a coerência dessa necessidade. Negamos num dia, buscamos no outro. “Por favor, me deem as respostas!” Mergulhamos num mar de profundidade infinita e vamos, aos poucos, encontrando novas referências, novas vozes que, de longe, se somam as nossas. O mergulho é solo.

A próxima etapa é aquela em que levamos esse novo para as práticas diárias — o Walk the Talk — e é aí que o bicho pega! Nesse estágio da transição ainda não amadurecemos as novas ideias, mas a percepção sobre si já mudou, e como consequência muda também a percepção sobre o que você faz, sobre suas escolhas recentes e é lógico, sobre outras pessoas. Neste momento é provável que você sinta vontade de sinalizar: mudei! Mas por maior sentido que isso faça para você, nem sempre fará para todos a sua volta. Vão dizer: “Você mudou!” e esta afirmação dá margem para muitas interpretações.

Como toda jornada, uns seguirão ali do lado, outros um pouco atrás e outros vão questionar a escolha do caminho. Quando digo “outros” incluo os outros dentro de mim mesma. Esta é a fase da dúvida, do luto, da confusão; quando ativamos o estágio emocional que nos faz paralisar diante da desconfiança – do ainda campo do desconhecido – e a coisa toda desanda. Aqui despertamos as crenças e todos os vieses cognitivos que confrontam aquilo que já sabemos (passado) com aquilo que não sabemos (futuro). E agir, ou parar, é uma decisão individual e muito, muito solitária. Demanda clareza desse novo cenário e, acima de tudo, paciência.

Mas nem tudo são trevas!! Se soubermos driblar o fatídico “momento ideal” e nos entregarmos à experiência do “vai com medo mesmo”, teremos uma grande oportunidade de gerar novos aprendizados, de agregar conhecimento e de, sim, evoluir!

Pesquisas que observam a existência de espécies que só sobrevivem ao se desenvolver de forma isolada e independente, afirmam que é isso que garante sua conservação e diversidade. Ou seja, nem sempre o grupo nos ajuda a evoluir. Muitas vezes o fato de nos distanciarmos é o que nos permite fazer a transformação individual e colaborar com a do próprio ecossistema. Não é à toa que encontramos tantas respostas ao observar a natureza, pois ela demonstra em sua perfeição sistêmica, a grande variedade e complexidade existente entre indivíduos e grupos. Logo, estamos todos em constante evolução individual e sistêmica, e o que diferencia o caminho desta evolução é a nossa capacidade de percebe-la.

Quando chegamos a este estágio de entendimento, voltar não é mais uma opção. Nossa percepção de conexão é outra e por isso nossas experiências e relações também o são. Mudar a percepção é uma experiência individual, e por isso se sentir sozinha(o) neste momento de transição é tão comum. Doloroso, mas comum. Porém estar sozinha(o) não precisa significar se sentir sozinha(o). Essa mesma jornada que nos tira da zona de conforto e nos distancia do conhecido (e isso inclui as pessoas), nos abre uma porta para o auto conhecimento e para uma chance única de aprendermos ser nossa própria, e melhor companhia. Desenvolver esta consciência, e principalmente este sentimento, demanda tempo. Como alguém que vamos conhecendo aos poucos, é uma relação que precisa amadurecer…

A evolução da consciência nos ajuda a compreender e cuidar de si e das pessoas nos momentos de transição. Nos ajuda a enxergar o lado cheio do copo, aceitar o novo humano que estamos construindo com compaixão e resiliência. Nos ajuda a ter clareza do que desejamos e dos desafios de uma jornada contínua de transformação, crescimento e aprendizados. Nos faz perceber que a transição, mesmo que solitária, esta inserida em um contexto coletivo, e por isso, nunca estamos realmente sozinhos.

O que aprendi, vivendo essa jornada, foi que momentos de isolamento são necessários. São eles que provocam o exercício de imersão e entendimento para assim construirmos futuros significativos, para nós e para todos. Compreendi então que, embora a transição seja uma escolha pessoal, ela também faz parte da bela e conturbada experiência humana na terra. E viver essa experiência tem valido qualquer desafio!

Fonte:
https://lilianaloureiro.medium.com/porque-a-transi%C3%A7%C3%A3o-%C3%A9-uma-jornada-solit%C3%A1ria-5466ef079a59/
Liliana Loureiro

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