“Um novo RH ou mais do mesmo de sempre”?

Estamos em 2021 e muita coisa mudou nos últimos (e incrivelmente complexos) anos, inclusive no que se refere ao contexto das empresas – de forma geral. Com efeito, temos testemunhado o surgimento de novos paradigmas e o desaparecimento de outros tantos, quando olhamos em direção ao ambiente do RH como um todo.

Tenho 50 anos (sei que não aparento rsrs) e sempre militei, de uma maneira ou de outra, na área de recursos humanos de empresas, algumas das quais localizadas aqui no Maranhão, no Pará, na Bahia, em São Paulo e no Paraná.

Gosto desse ambiente: pessoas, equipes, treinamento, desenvolvimento, gestão, recrutamento/seleção e por aí vai… Afinal de contas eu me formei com esse intuito, ao escolher estudar Psicologia e me direcionar para o trabalho nas organizações, escolha essa que foi depois ratificada em uma continuidade pós acadêmica, ao investir em especialização e mestrado – ambos apontando nessa mesma direção.

Ora, já são quase 25 anos de atuação e alguns calos nas mãos. Ao longo desse período, testemunhei e convivi com algumas das muitas perspectivas que atravessaram o universo empresarial, ideologias e ferramentas de gerenciamento e liderança, surgimento de práticas de gestão baseadas em filosofias fundamentadas em desempenho, controle e eficácia – tal é o caso, por exemplo, da qualidade total, cuja aplicação permeou o cenário organizacional nos anos 1980 e 1990. Naquela época era muito comum se falar em círculos de controle da qualidade e em ciclo PDCA, dentre outras coisas… por aquele tempo, por outro lado, nem se cogitava o uso da tecnologia nos padrões atualmente aplicáveis e, a título de comparação, pensar na aplicação de testes psicológicos on line era algo surreal, no mínimo.

Não é exagero de minha parte afirmar que vivemos, hoje, em um mundo em que os avanços tecnológicos beiram o impensável e estreitam cada vez mais não apenas as fronteiras entre as pessoas como também as possibilidades de (re) configuração do que um dia aprendemos, o que haverá requerer dos profissionais de RH uma nova mentalidade – ou um novo mindset, como se costuma dizer no vocabulário dos que trabalham com coaching – uma vez que esse estreitamento traz consigo novas responsabilidades e novos desafios.

No bojo desses desafios podemos citar a premência de nos voltarmos para aprender a nos desapegarmos de antigas estruturas de pensamento que porventura já estejam em desuso (e talvez nem tenhamos percebido ainda), abrindo espaços para a aquisição e o aprimoramento de novas estratégias digitais que cada vez mais se tornam realidade ao nosso redor, caracterizando a essência do que conhecemos como a indústria 4.0 – a quarta revolução industrial. Sem dúvida, estamos vivendo um tempo em que não sabemos onde tudo isso vai nos levar e nem temos ideia dos limites (se é que existem) que estão sendo alargados diante das mudanças que ocorrem em todo o mundo dos negócios, oportunizando o surgimento de outros empreendimentos e, obviamente, o desaparecimento de muitos negócios que sucumbiram à concorrência, ao envelhecimento de seus processos de gestão e até mesmo à caducidade de suas estruturas gerenciais.

Por outro lado, lidamos hoje com uma cultura organizacional permeada de valores que inexistiam ou que eram pouco reconhecidos até bem poucos anos atrás. Sem embargos, compondo a política da qualidade de um sem número de empresas, esses valores sinalizam preocupações ambientais e vocações comunitárias, perspectivas inclusivas e ações pautadas na diversidade, bem como a defesa – ainda que incipiente e às vezes restrita ao meio acadêmico ou ao plano teórico – de atitudes que visem a promoção da saúde emocional dos trabalhadores.

No passado, é bem verdade, muito já se discutiu, sobretudo no decorrer da segunda metade do século XX, a respeito da saúde física, da ergonomia e da obrigatoriedade de exames médicos ocupacionais, à guisa de exemplo. Mas faltavam ponderações que tratassem de esclarecer e de incentivar a gestão das emoções e a construção de espaços (concretos ou abstratos) mais humanizados e relacionamentais nas empresas.

Esses espaços, repito, ainda que incipientes, parecem indicar, mesmo que adormecidamente, o reconhecimento e a discussão de alguns aspectos atrelados à precarização, às doenças, aos assédios e aos sofrimentos oriundos do ambiente de trabalho.

Retomando a questão dos desafios destes novos tempos em que vivemos, penso que tudo isso (tecnologias, inteligência artificial, indústria 4.0, etc., etc., etc.) tende a mudar – e já vem mudando substancialmente – o RH, em sua essência. Não falo apenas de rotinas, procedimentos, ações ou até mesmo de ferramentas que, não faz muito tempo, eram consideradas “a última palavra” em tecnologia (e que hoje estão sendo “substituídas” ou aperfeiçoadas por meio da criação de aplicativos para celulares e pelo uso da internet).

Refiro-me também ao fato de que “pensar fora da caixa” nunca foi algo tão falado e buscado como tem sido na modernidade. Pensar rápido, tomar decisões compreendendo o todo de uma forma “quântica”, buscar soluções que possam caber dentro de um smartphone, estar alinhado com o advento da inteligência artificial e suas aplicações, enfim, são uma tônica que parece seguir um fluxo inexorável, incalculável e imprevisível… cada vez mais!

Onde é que esse cenário vai nos levar e como nós, profissionais de RH, teremos que lidar com isso é uma empolgante incógnita. É fato, contudo, que aqueles que saírem na frente e se posicionarem como profissionais abertos ao novo, certamente encontrarão respostas que tenderão a revolucionar muitas de suas antigas crenças, oportunizando o encontro com um RH que ainda está sendo desenhado pelas mãos do destino.

 

Alex Feitosa

Psicólogo Organizacional de do Trabalho – CRP 22/1699
Analista de Recursos Humanos/Serhum Consultoria

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